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domingo, 26 de dezembro de 2010

///////////////TEXTO DE MACHADO DE ASSIS/////////////////////


Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908), escritor carioca, brasileiro. Considerado o pai do realismo no Brasil, escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e vários livros de contos, entre eles, Papéis Avulsos, no qual se encontra o conto O Alienista, no qual discute a loucura. Também escreveu poesia e foi um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no país. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras.


A um legista


Tu foges à cidade?
Feliz amigo! Vão
Contigo a liberdade,
A vida e o coração.


A estância que te espera
É feita para o amor
Do sol com a primavera,
No seio de uma flor.


Do paço de verdura
Transpõe-me esses umbrais;
Contempla a arquitetura
Dos verdes palmeirais.


Esquece o ardor funesto
Da vida cortesã;
Mais val que o teu Digesto
A rosa da manhã.


Rosa . . . que se enamora
Do amante colibri,
E desde a luz da aurora
Os seios lhe abre e ri.


Mas Zéfiro brejeiro
Opõe ao beija-flor
Embargos de terceiro
Senhor e possuidor.


Quer este possuí-la,
Também o outro a quer.
A pobre flor vacila,
Não sabe a que atender.


O sol, juiz tão grave
Como o melhor doutor,
Condena a brisa e a ave
Aos ósculos da flor.


Zéfiro ouve e apela.
Apela o colibri.
No entanto, a flor singela
Com ambos folga e ri.


Tal a formosa dama
Entre dois fogos, quer
Aproveitar a chama . . .
Rosa, tu és mulher!


Respira aqueles ares,
Amigo. Deita ao chão
Os tédios e os pesares.
Revive. O coração


É como o passarinho,
Que deixa sem cessar
A maciez do ninho
Pela amplidão do ar.


Pudesse eu ir contigo,
Gozar contigo a luz;
Sorver ao pé do amigo
Vida melhor e a flux!


Ir escrever nos campos,
Nas folhas dos rosais,
E à luz dos pirilampos,
Ó Flora, os teus jornais!


Da estrela que mais brilha
Tirar um raio, e então
Fazer a gazetilha
Da imensa solidão.


Vai tu, que podes. Deixa
Os que não podem ir,
Soltar a inútil queixa.
Mudar é reflorir.
  

A uma senhora que me pediu versos


Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.


Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou têm assaz
Melancolia.


Uma só das horas tuas
Valem um mês
Das almas já ressequidas.


Os sóis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.
  



Carolina


Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


Machado de Assis, 1906

 
Círculo vicioso Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
“Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela”
Mas a lua, fitando o sol com azedume:
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume”!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vagalume?”…
Machado de Assis


As Rosas
  Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
          Matinais;

Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
          Da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
          Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
          Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
          As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.

          Tal é o vosso destino,
          Ó filhas da natureza;
          Em que vos pese à beleza,
                   Pereceis;
          Mas, não... Se a mão de um poeta
          Vos cultiva agora, ó rosas,
          Mais vivas, mais jubilosas,
                   Floresceis.








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